Entrevista ao Trail Runner César Leão

Nome: César Edgar de Sousa Leão

Idade: 37 anos

Profissão: Nutricionista

Clube: Unidade Especial de Corrida

Localidade: Paços de Ferreira

Olá César, antes de darmos início à nossa conversa, gostaríamos de saber como é que o Trail surge na tua vida. Já praticavas desporto?

Olá. Eu sempre pratiquei desporto. Cresci a jogar à bola no meio da rua e as nossas brincadeiras passavam todas pelo ar livre. Depois, a partir dos 8 anos joguei futebol, passando por todos os escalões de formação no Paços de Ferreira, e depois jogando 3 anos como profissional na 2ª liga em sénior. Entretanto, com os estudos, deixei o lado profissional, mas continuei a jogar futebol nos clubes da terra, em campeonatos distritais. Apesar de fazer as minhas corridas para manter a forma, nunca tinha sido algo que eu apreciasse particularmente. Até que me convidaram para fazer uma corrida de 10 km que houve aqui no concelho, e como sempre gostei de me desafiar fisicamente, aceitei, sem saber onde me ia meter. Posso dizer que não terminei a corrida, porque não aguentei. Comecei a treinar corrida mais assiduamente e nesse ano consegui fazer uma série de corridas de 10 e 15 km, e terminar a minha primeira meia maratona. Depois durante 5-6 anos ia correndo em algumas provas mais emblemáticas, mas como continuei a jogar futebol, nunca foi nada muito sério. Em 2012 deixei o futebol, e comecei a levar mais a sério a corrida, tendo definido para 2013 correr a minha primeira maratona. E assim foi. O Trail foi-me apresentado durante o meu processo de treino para a maratona por um amigo, o Rui Santos, que um dia me desafiou para irmos correr para o monte, e desde essa altura que tenho feito corrida mais direcionado para o Trail, porque sinto maior alegria e prazer nessa vertente, do que propriamente na estrada.

Em que prova de Trail te “estreaste”? Quais foram as sensações?

A minha primeira prova de Trail oficialmente foi o XMAS TRAIL em Perosinho. Foram 15 km de descoberta da competição no Trail. Senti-me muito bem, exactamente pelas sensações de descoberta e surpresa que vamos tendo ao longo do percurso. A nível de distância, a primeira Ultra foi no Trilho dos Abutres, em que aí, experimentei não apenas as sensações boas, mas também aquele desespero de sentir o corpo a atingir os seus limites. Mas o que o Trail nos faz sentir é que apesar de atingirmos um limite, esse limite pode ser ultrapassado e acabamos sempre a pensar quando será a próxima.

Em termos de preparação para as provas, existe alguma rotina em termos de treinos que sigas?

Quando pensei em fazer a maratona, fiz um plano de treinos específico para 16 semanas, mas como o trail surgiu assim como de surpresa, basicamente estou à descoberta do que poderá funcionar para mim. Não tinha conhecimentos para saber que tipo de treino deveria fazer e basicamente tento fazer corrida em monte, tento treinar durante mais tempo, e vou tentando intercalar intensidades diferentes nos períodos em que treino.

Como nutricionista, que conselhos darias a todos aqueles que praticam Trail de longas distâncias?

Para usar uma analogia que todos compreenderão, se num carro de fórmula 1 colocássemos gasóleo agrícola, com certeza não iria dar bom resultado. O nosso corpo é uma máquina muito precisa, e que se consegue ajustar a alguns erros que possamos cometer, mas em Trail de longas distâncias, esses erros por muito pequenos que sejam, podem ser a diferença entre terminar ou não, ou em conseguir um tempo melhor. No entanto, as coisas não podem e não devem ser generalizadas, e assim o meu conselho seria, e porque todos apresentamos algumas diferenças, que procurem um conselho especializado e personalizado, para obterem o melhor rendimento do vosso corpo e dos vossos treinos. Não basta ter um motor afinado pelo treino, se o combustível que lhe fornecemos não for o mais adequado para lhe tirar o máximo rendimento.

Sabemos que abriste há pouco tempo em Paços de Ferreira uma loja de equipamento de Trail. Como surgiu este projeto? Fala-nos um pouco dela.

Sim, é verdade. Abri recentemente a loja “Elemento Natural PFR”, no PaçosShopping. Apesar de a loja só agora surgir, a ideia foi sendo pensada já há algum tempo, não nestes moldes inicialmente, mas mais direcionada para a área da suplementação desportiva. Devido à minha formação, sempre lidei com atletas e com suplementos, e devido a isso, sempre tive amigos que me iam pedindo que lhes desse um ou outro conselho sobre suplementos e eventualmente acabavam por me pedir que lhes arranjasse os suplementos. No entanto, quando comecei a fazer Trail e comecei a lidar com o material que é necessário para essa vertente da corrida, percebi que era a altura certa, porque havia alguma dificuldade em encontrar esse material mais técnico aqui em Paços de Ferreira. Além disso, era difícil encontrar quem nos ajudasse a escolher o material que se adequasse melhor ao nível de cada um. E aliando os suplementos ao material de Trail e corrida, resolvemos avançar com a ideia.

Quais são os teus objetivos em termos de Trail para o ano de 2014? Pretendes participar em alguma prova fora do país?

Os meus objetivos, como em tudo na vida, são desfrutar das provas em que me inscrevi e nas que ainda me vou inscrever. Aproveitar ao máximo a companhia das pessoas que me acompanham nestas aventuras, conhecer ao máximo pessoas que tem gostos semelhantes e desfrutar ao máximo das provas, ganhando experiência e conhecimento. Mais concretamente, tenho em breve a prova mais longa que irei fazer este ano, os 100 km de S. Mamede. Depois, ao longo deste ano, vou tentar acabar uma ultra por mês. No estrangeiro, para este ano ainda não tenho nada programado, mas em 2015 espero já fazer uma ou duas provas, e a médio / longo prazo tenho o objetivo de conseguir a inscrição para o UTMB com o meu amigo Rui Santos e juntos concluirmos essa grande aventura.

Em termos mais pessoais e relacionados com a tua loja, que projetos tens em mente relacionados com a mesma?

Para já trabalhar na divulgação da mesma, junto da população do concelho que pratica desporto, nomeadamente corrida e Trail, e paralelamente, trabalhar na promoção do Trail e da corrida no nosso concelho. Apesar de em Paços de Ferreira termos condições para Trail espetaculares, de termos uma mentalidade de corrida na nossa população (vemos imensas pessoas a correrem nas estradas, nos parques…), não existem provas, nem de estrada nem de Trail. A minha ideia passa, com a ajuda da minha equipa e das instituições do meu concelho, organizar o primeiro Trail em Paços de Ferreira, além de mais uma ou duas ideias para eventos que já estão a ser tratados, e que espero eu vejam a luz do dia.

Se te pedisse para definires o Trail em cinco palavras, que palavras utilizarias?

Não é fácil definir uma coisa que nos induz tantos sentimentos, ainda para mais em apenas 5 palavras. Mas, pedindo desculpa por utilizar mais de 5 palavras, talvez consiga traduzir o que sinto no Trail numa frase: “No sofrimento do corpo, atingir o prazer da superação!”

César Leão