The mountain Wolf


"A Irmã de um Trail Runner"

02-12-2013 21:09

Ana Catarina (irmã do Albinix)

Catarina, segundo sei, tu e o teu irmão quando eram miúdos praticavam atletismo juntos. Como era praticar atletismo com o teu irmão? Conta-nos algumas peripécias

De certa forma era engraçada. Quem nos treinava era o meu pai, lembro-me de ele nos mandar correr em volta do campo da minha avó por debaixo das ramadas. Era comico, pois aquilo era tudo menos atletismo de estrada, parecia-se mais com corta-mato. O meu irmão nessa altura era gordinho, quem o vê hoje diz que é impossivel, mas a verdade era mesmo essa, ele não corria ele arrastava-se, mas tinha uma coisa que ainda hoje tem que é força de vontade, e não desistia. Resmungava com o meu pai, mas desistir nunca, o que sempre admirei nele, podia ser a prova ou o treino mais dificil, mas nunca abandonava aquele objetivo. Devido a esta força, ele tornou-se num grande atleta. AS provas de atletismo eram engraçadas, sei que apesar de tudo divertiamo-nos muito. Existe uma foto nos arquivos da minha mãe, em que estou em primeiro e o meu irmão vem atràs, hoje em dia isso não acontece, vem ele na frente e a mim ninguém me vê lolololol

 

Costumavam “dar umas pedaladas” em família. Como era o Daniel nessa altura? Imaginavam que um dia iria ser o atleta que é hoje?

Ao Domingo era costume passearmos de bicicleta em família. Acordávamos todos bem cedo, preparavamo-nos e là iamos nòs. O trajeto era sempre o mesmo, Santo Tirso – Agrela e vice-versa. Todos nós tinhamos muita força de vontade em pedalar, para nós aquele passeio de domingo não passava de uma diversão em família, e sinceramente nunca pensamos que o meu irmão se tornasse no grande atleta que é hoje, até porque ele veio revelar este amor pela corrida, na fase em que queria muito concorrer à academia militar, aì sim, nasce o grande amor pela corrida. Nesta altura, o desporto que o meu irmão praticava era o andebol, mas cá para nós não era muito a praia dele, mas lutou sempre por um lugar na equipa, e conquistou-o, mas não tinha grande paixão pelo  andebol como tem pela corrida, é como a àgua e o vinho.

 

Quando o Daniel começou a praticar ciclismo houve de alguma forma receio da vossa parte, visto que era apenas uma criança?

Ele deixa o andebol e dedica-se ao ciclismo. O meu pai amava a ideia pois é um amante dessa modalidade, assim como eu e o meu irmão. À minha mãe não lhe agradou muito a ideia, pois ele era obrigado a praticar o desporto na rua, como a maioria, e isso fazia-lhe uma certa confusão, pois havia carros e ela tinha muito medo que lhe acontecesse algo, reaçao normal da parte dela, pois a minha mãe foi sempre uma “mãe galinha”, mas é muito bom que ela seja assim. Quando ele começa com os treinos de ciclismo, acontecem também as primeiras quedas, algo muito normal, mas para ela não, se ela jà se preocupava, então é que a sua preocupação aumenta. Sempre que ele saía, dizia logo “Danieeelll tu levas o capacete???” e ele jà no fim da rampa de casa dizia “ Levo Mãe, que galinha”. Lembro-me como se fosse hoje da primeira corrida do meu irmão em Santo Tirso. Là vamos nós todos entusiasmados, emutivos, com as gargantas afinadas para poder puxar pelo seu nome. A espera foi demorada, mas vemos um ciclista a fazer a curva da rotunda dos cãozinhos, e eis que era ele, com a camisola roxa, posicionada em forma de flexa, gritamos, saltamos, estávamos com uma alegria tremenda. Eu gritrei muito pois era o meu irmão que estava ali. Confesso que nunca nos demos muito bem, nunca estavamos de acordo com nada, mas na altura de puxar um pelo outro lá estavamos.

Mais tarde dá-se o fatídico acidente com o colega e amigo da sua equipa durante um treino, e aí sim, abandona o ciclismo, pois já não existia muita moral para lá continuar. Aquelas imagens não lhe saíam da cabeça. Foram muitas coisas ao mesmo tempo, e os meus pais também ficaram muito mais preocupados, pois podia ter sido com o fillho deles.

Mais tarde acaba mesmo por abandonar o ciclismo, e foi então que nasceu a paixão pela corrida.

 

Desde 2010 que o Daniel pratica Trail. Como reagiram quando decide abandonar a orientação para se dedicar ao Trail?

Para nós, orientação e Trail era a mesma coisa, pois não tinhamos conhecimento exato do que era o Trail. Sabiamos que era correr nos montes, serras, pouco percurso de estrada tinha, e como a orientação era também parte dela corrida por campos, florestas, não nos fez confusão nenhuma. Se era algo que ele queria, para nós estava tudo bem. O atleta era ele. A minha mãe sò teria de continuar a lavar as suas roupas de treinos completamente enlameadas. (alguns risos)

 

Como era lá em casa quando o Daniel ia a uma prova e a vossa família não estava presente? Havia “sofrimento”?

Se havia sofrimento??? Todos nos preocupavamos com ele, pois não sabiamos se estava tudo bem com ele ou não. Só tinhamos informações dele quando acabava a prova, mas lá em casa havia e ainda há uma pessoa, que sempre que ele vai para uma prova fica com o seu coração nas mãos. Lembro-me que na época em que ele praticava orientação e demorava mais do que o normal a dar notícias, pegava no seu telemovel e ligava para a esposa dele, e ela dizia que ele ainda não tinha chegado à meta, ou que não sabiam dele, que ele poderia estar perdido (pois na orintação se os sinais não estiverem bem colocados ou se os atletas se desorientarem, acabam por se perder). Ui, ela em casa iniciava a sua marcha de um lado para o outro e começava a profrerir “ ai, e se ele caiu a um buraco, ele como não anda com telemovel, ninguém o vai encontrar” ou então “ e se ele se aleijou e està estendido no chão, cheio de dores, agora é que vai ser bonito, raios partam a orientação, é sò para me dar preocupações”. Entretanto liga a minha avó para casa a perguntar por ele, e se a minha mãe soubesse de noticias ela dizia “ ainda bem, esta canalha sò me deixa preocupada, eu jà pedi tanto a nosso senhor para não lhe acontecer nada”, mas se ela dizia que ainda não tinha noticias a minha avó começava logo “ ai meu deus, serà que lhe aconteceu alguma coisa? Serà que està tudo bem com ele? Agora é que eu estou aflita”.

Eu e o meu pai, não nos preocupavamos muito, porque pensavamos positivo, "não lhe acontece nada, vai fazer uma prova e volta para casa", o que acabava por ajudar, pois alguém naquela casa tinha de transmitir confiança à minha mãe de que tudo estava bem com ele.

Penso que maior sofrimento que este da minha mãe e da minha avó não existe.

 

Como sabemos, não estás em Portugal. De que tens mais saudades de fazer com o teu irmão?

Como jà referi há pouco, eu e o meu irmão nunca nos demos muito bem, o que era uma tristeza para a minha mãe, mas nòs là no fundo gostavamos muito um do outro, e se acontecesse algo com um de nòs o outro ficava bastante preocupado. Temos um sentimento em comum, gostamos ambos de estar sossegados no nosso canto, e respeitavamos isso, algo que era fácil para os dois. A nossa relação de irmãos ficou mais forte, quando no ano de 2011 me acontece algo pessoal, o que me levou a uma grande depressão, e aì estava ele para me ajudar a erguer e não me deixar desistir de nada foi ele a primeira pessoa a quem eu recorri a pedir ajuda. A partir daí, a nossa amizade, aquele carinho muda por completo, para melhor claro.

Posso dizer que tenho saudades de tudo, dos nossos tempos de criança, das nossas brincadeiras, mas sinto realmente saudade do último ano que passei em Portugal, dos passeios que demos, de ter ajudado na 1ª prova dos trilhos tirsenses... para ser franca tenho saudades de tudo o que fiz com o meu irmão, cada momento que passamos juntos era diferente, existiam sempre muitos sorrisos, gargalhadas, o que é sinal de felicidade, de alegria...

 

Se te pedissem para definires o teu irmão em 5 palavras, que palavras utilizarias?

As palavras que eu escolheria para o defenir seriam...

Corajoso, lutador, inteligente, amigo, humilde.

 

Porque relacionas cada uma dessas palavras com o Daniel?

“È preciso ter coragem para lutar, inteligência para se saber viver, e humildade para se poder criar bons amigos”

Nada melhor que uma frase destas para definir o meu irmão.

Ele tem coragem para lutar nas suas batalhas diárias (treinos, provas, trabalho e vida pessoal).

Inteligente e humilde, porque não é facil saber gerir as vitórias da vida, se não soubermos como o fazer, se não formos inteligentens para sabermos lidar com isso, perdemos toda a nossa humildade, algo que o meu irmão não perde.

Amigo, é o que o define bem, é ser um verdadeiro e bom amigo, sempre pronto a ajudar, e quem o conhece, sabe bem do que falo.

Sei que por vezes ele não o faz transparecer, mas sei que ele se preocupa bastante comigo, não precisa de o dizer, mas eu sinto-o, pois ele é meu amigo.

 

Para terminarmos, se estivesses neste momento frente-a-frente com o teu irmão, o que lhe dirias?

Neste momento se o pudesse ter na minha frente, não lhe diria nada, apenas o abraçava forte muito, muito forte. Não é preciso palavras para lhe dizer o que sinto. Palavras leva-as o vento.

Mesmo estando longe, ele sabe o quanto o admiro e o quanto gosto dele, e tenho muitas, muitas saudades dele. Ele é o meu orgulho o meu campeão.

Agradeço por me terem concedido esta entrevista para falar de uma das pessoas mais importantes da minha vida, é um orgulho enorme falar do meu irmão. Espero que os leitores gostem tanto de ler esta entrevista, assim como eu gostei de a dar.

 

Obrigada

Ana Catarina

Beijinhos a todos , em especial ao meu campeão, o meu Irmão.

 

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