The mountain Wolf
Entrevista a Sónia Alves "A Mulher de Um Trail Runner e Trail Runner"
09-12-2013 10:05
Nome: Sónia Alves
Mulher do Trail Runner: Vítor Teixeira
Sónia sei que o Vítor já pratica desporto há bastante tempo. Quando começou a praticar Trail qual foi a tua reacção? Houve algum tipo de receio da tua parte?
É verdade, às vezes até acho que ele já nasceu a “correr”. Já praticou vários desportos, desde a corrida, escalada, montanhismo, snowboard, Btt, ciclismo, e sempre que aparece algum novo quer experimentar. Daí que quando começaram a aparecer as primeiras provas de Trail o Vítor tinha que ver como era. Para mim era mais um desporto a juntar aos outros que ele já fazia ou tinha feito. Como já estava habituada à rotina de treinos/provas a preocupação manteve-se a mesma. O receio que as viagens corressem bem, porque tinha que se levantar cedo fazer uma viagem de vários quilómetros, fazer a prova e depois ter que fazer a viagem de regresso, às vezes não nas melhores condições físicas. E depois o receio das quedas, das lesões, porque traz-se sempre uma medalha no corpo quando se faz um Trail.
Mas o meu grande receio veio quando no meu primeiro trail eu pude ver que os atletas que como o Vítor têm a ambição de chegar entre os primeiros, vão a ritmos que uma queda, um pequeno descuido pode significar umas prendas jeitosas. Acho impressionante o poder de resistência e a força de vontade de atletas que como o Vitor, mesmo estando no seu limite conseguem arranjar motivação para ainda dar mais qualquer coisa. Felizmente até hoje essas medalhas têm sido fáceis de curar.
O facto de o Vítor começar a praticar Trail, alterou de alguma forma a vossa vida/rotina diária?
Não propriamente, ele já participava em provas, ou de corrida ou de ciclismo, por isso os treinos eram regulares. Só tivemos que reorganizar melhor a agenda para poder conciliar com todas as actividades, incluindo a vida familiar. Claro que para passar a fazer as provas de Trail teve que deixar de fazer as outras.
Sei que começaste também a praticar Trail. Certamente que o Vítor teve alguma influência nesta decisão. Fala-nos um pouco dessa tua entrada no “mundo do Trail”.
Sim, ele foi o grande desencaminhador. Quando o Vitor começou a fazer provas de trail, eu não ia com ele porque tinha a minha filhota ainda muito pequena, e os relatos que me chegavam era o que o Vitor e os amigos contavam, e as fotos que lhes tiravam durante as provas.
Lembro-me que a história que mais me marcou foi o Vitor contar que durante uma prova noturna foi atacado por uma coruja que estava num curso de água seco, onde ele ia a correr. Desde ai, comecei a achar que deveria ser um espetáculo conseguir correr/caminhar quilómetros no meio daquelas montanhas. Passar por trilhos onde só mesmo as cabras passam, deslumbrar paisagens que só a pé conseguimos descobrir. Mas correr não era para mim, nunca tinha corrido na vida, não aguentava sequer um quilómetro. Em Junho de 2011 o Vitor participou no circuito do AXTrail e num fim-de-semana, a família foi toda assistir in loco uma prova de trail. E nada melhor que o paraíso da Lousã para me fazer crescer a vontade de entrar neste mundo. Nessa altura as provas ainda não tinham o número de participantes que têm hoje e por isso foi fácil de captar o espírito de camaradagem que se vive entre atletas de trail. Todos se ajudam e todos são ajudados. O objetivo de todos é comum, que todos terminem as provas, independentemente do tempo que fazem.
A partir daqui foi começar a treinar, e com um treinador em casa não foi muito fácil, mas quase. E passados alguns meses aventurei-me no meu primeiro Trail Foram 18 km que deu para eu perceber que Trail é muito mais que correr, é uma comunhão plena entre ti, as tuas capacidades e a natureza. Entre aquilo que queres fazer e do que és capaz. Dá para nos sentirmos pequeninos, nas dificuldades e para nos sentirmos Enormes nas conquistas. Foi duro iniciar, mas pelo sentimento de liberdade que nos devolve, depois da primeira o desejo é sempre voltar. “Estranha-se mas depois entranha-se.”
Das provas em que tiveste a oportunidade de participar, qual a que gostaste mais? Porquê?
Não foram muitas as provas que consegui fazer. Mais pela minha falta de disponibilidade do que por falta de vontade. Não é de todo fácil conciliar as minhas idas a provas, as idas do Vítor e o tempo passado com a minha filhota, que está sempre em primeiro lugar na lista. Mas gostei de todas, porque todas são experiências novas, lugares mágicos e diferentes, e pessoas que se cruzam no teu caminho.
Mas a que me marcou mais foi o Trail Santa Iria, no início deste ano. Se calhar porque foram os meus primeiros 25 Km onde tive a oportunidade de me superar. Foi uma prova muito dura, deu para morrer e ressuscitar.
Lembro-me que aos 18 Km pensei que não iria conseguir chegar ao fim, mas como levava comigo o meu treinador, o Vítor, foi só preciso ouvir umas palavras de incentivo e não sei bem como mas as pernas começaram a trabalhar e acabei por chegar ao fim.
De que forma te preparas antes de uma prova? Costumas cumprir um plano de treinos?
Ui, isso é muito complicado! Dá direito a guerra civil em casa. Normalmente às provas que eu vou o Vítor também vai, o que quer dizer que temos os dois que treinar, cada um ao seu ritmo e ainda temos a filhota para tomar conta. Isto resulta numa grande ginástica horária. Ou vai ele, ou vou eu, por isso o plano de treinos nem sempre é o desejado, e por muitos planos que se façam nunca conseguimos cumprir. Consigo correr normalmente 2/3 vezes por semana ao início da noite. Quando tenho alguma prova perto tento fazer treinos mais assíduos e prolongados. Mas como o meu objectivo não é chegar entre os primeiros, os treinos que consigo fazer permitem-me chegar ao final da prova e não levar com o famoso “empeno”.
Sentes que o facto de o Vítor praticar Trail te deixa mais à vontade quando tu estás a participar numa prova em que ele também está presente?
Sim, é uma situação confortável e que me dá mais confiança. Já fiz algumas provas com ele ao meu lado e sei que ele tem sempre aquela palavra certa na hora certa, mas tenho noção que o lugar dele não é à minha beira. Embora não o diga, o bichinho da competição está lá sempre a trabalhar, o lugar dele é à frente a dar o tudo por tudo. Mas quer ele vá ao meu lado ou espere por mim na meta, é sempre um grande incentivo, e até já aconteceu de ele terminar a prova primeiro do que eu, e me vir buscar.
Se um dia a vossa filha te disser “Mãe vou praticar Trail” qual será a tua reacção?
Ela já sabe quando vamos treinar ou fazer alguma prova e começa a dizer que quer vir correr comigo, mas se calhar quando começar vai perder a vontade. Desde pequenina que a incentivámos a fazer algum desporto com o objetivo que ela siga uma vida saudável que ganhe gosto por uma atividade física, por isso desde que nessa altura ainda me seja possível a mim e ao Vítor correr atrás dela, acho que vamos os dois ter muito orgulho que isso aconteça. Apesar de termos consciência de todos os perigos existentes no trail, desde que feito com consciência o perigo torna-se relativo. Todo o desporto representa um risco. A Vida é um risco, e por isso é que é tão bom vivê-la! E corrermos os três pelos montes vai dar um gozo muito especial.
Sónia Alves
—————