The mountain Wolf


Entrevista ao Trail Runner Rui Santos

19-02-2014 19:49

Nome: Rui Filipe Taipa Santos

Idade: 27

Profissão: Polícia de Segurança Pública

Clube: Unidade Especial de Corrida

Localidade: Freamunde

 

Olá Rui, antes de começarmos esta nossa “conversa” gostaríamos de saber em primeiro lugar há quanto tempo praticas Trail e como é que este surge na tua vida. Já estavas ligado ao desporto? Fala-nos um pouco acerca disso.

Acho que posso dizer que sempre estive ligado ao desporto. Comecei a praticar futebol de onze logo aos 5 anos, desporto que só abandonei aos 21 por motivos profissionais. Pelo meio, em desporto escolar, ainda estive envolvido no badminton, que apesar de gostar bastante, nunca evoluiu para um patamar mais sério. Surgiu também uma ou outra corrida de estrada/corta-mato, daquelas típicas provas de escola e para miúdos, mas sinceramente nunca me cativaram muito. Na verdade, não gostava nada de correr a não ser atrás de uma bola. Perguntava muitas vezes ao meu pai porque o fazia. Correr 10, 21, 42 km.. não fazia sentido. Hoje, se corro e se pratico trail é por culpa dele. Há uns 3 anos lá me convenceu a ir com ele e com uns amigos fazer 10km, curiosamente a Corrida do Dia do Pai, no Porto. Lá fui, meramente para participar e me divertir com eles. Acabada a prova já eu perguntava quando seria a próxima e prometia a mim mesmo que tinha de baixar aquele tempo. Surge assim o gosto pela corrida, a motivação de procurar baixar tempos, procurar aumentar distâncias, encontrar e superar novos desafios.. Contudo, o contacto com o trail só se fez mais recentemente, num dia em que a definir mais um treino, o meu pai me diz "hoje vamos treinar no monte".. - ok, vamos lá! O treino ia a meio e já eu lhe dizia que aquilo sim era o que eu gostava e queria fazer. Ali apercebi-me que até tinha jeito para a bola mas andei enganado com o futebol durante muito tempo.

Em que prova de Trail é que te estreaste? Como foram as primeiras sensações?

A minha primeira prova foram os 17km no Trilho do Paleozóico. Apesar de decidir participar sabendo que tinha uma preparação inadequada, tive boas sensações. Fiz o percurso todo com um amigo, que ainda hoje me acompanha nestas aventuras, e claro, gostamos tanto que não nos ficamos por ali. O pensamento no final foi que no ano seguinte teríamos de fazer a Ultra.

 

Em termos de preparação para provas, como são feitos os teus treinos? Tens uma rotina diária? Tens um grupo que te acompanha? Em que zonas costumas treinar? Fala-nos disso.

Acho que a minha preparação não é exemplo para ninguém. Não sigo planos e sigo poucas regras. Treinos específicos não entram muito nas minhas contas e devia dedicar-lhes mais tempo. Depois, quando estou no Norte, por casa, faço os meus treinos regularmente, sozinho ou em grupo, de manhã ou à noite, uns 20km diários, por vezes mais. Normalmente consiste em passagens pela Citânia de Sanfins e a base militar do Pilar. A situação agrava-se quando por razões profissionais, deslocado uma semana por Lisboa, faço apenas um ou dois treinos. Mas prometo aqui que vou superar essa falta de motivação para os treinos na capital.

Há relativamente pouco tempo organizaste uma caminhada em memória do teu pai. Fala-nos um pouco dele e o que te levou a organizar este evento.

Falar do meu Pai é falar do meu melhor amigo, do meu ídolo. Era um Grande Pai, Homem de família, Homem de valores, daquelas pessoas especiais, sempre disponível para sorrir, sempre com uma mão amiga pronta a ajudar, com bons conselhos para dar, no entanto quem vive intensamente mais sofre por dentro.. e essa é a única razão que encontro para que tenha decidido proteger a vida com a morte. Um evento em sua homenagem, passado um ano do seu falecimento, surgiu com o intuito de ele não ser esquecido, nem lembrado pela forma como nos deixou. Que não seja recordado porque num determinado momento não conseguiu ter os pés assentes no chão mas sim porque durante a sua vida esteve num patamar humanamente mais elevado que a grande maioria de nós. Para além do mais, já mencionei que se hoje corro e pratico trail é por 'culpa' dele. Mas a verdade é que o meu pai influenciou bem mais gente a correr, a praticar desporto. A minha mulher é mais um exemplo, hoje em dia treinamos juntos muitas vezes e felizmente ainda teve a sua estreia numa prova, também de estrada, com o meu Pai. Inicialmente a ideia era organizar um trail, uma pequena corrida, a nível de percurso e distância não muito diferente das que habitualmente fazíamos juntos. Teria alguma divulgação mas seria mais para aqueles que já o faziam com ele. A ideia foi passando de boca em boca e fui constatando que existia também interesse numa caminhada. Decidi então que um evento de trail running era muito limitativo. Aqueles que tinham pouca ou nenhuma preparação física deviam também poder prestar a sua homenagem connosco. Dessa forma, todos caminhamos.

 

Foi um evento que correu como esperavas? Em termos de expectativas superou de alguma forma?

Correu tudo muito bem. Apesar de ser um pequeno evento teve o meu empenho máximo, encomendei painéis, lonas e medalhas que obrigaram a algum esforço financeiro, mas isso não interessava quando o objectivo era ter um dia memorável. E foi conseguido. Contaram-se umas 70 presenças. Apesar de ser em Dezembro fomos brindados com uma manhã solarenga. Lá nos divertimos nos trilhos. Foi a nossa homenagem. A nossa forma de dizer obrigado por tudo. Este ano vamos ver como acontece.

 

Em termos de objetivos para 2014 o que tens em mente?

Para este ano o objectivo mantém-se: sofrer para me compreender. Tenho estipulada uma Ultra por mês. Pese embora as datas e a disponibilidade para elas, mas é o que tentarei fazer. Participar e acabar uma prova de 100km também é um objectivo. A primeira maratona de estrada também será este ano. Mas agrada-me sobretudo os treinos em grupo, as viagens para as provas, o convívio, a camaradagem, o conhecer locais que se não fosse desta forma não conheceria. Isso é para manter e até melhorar. Resumindo: correr mais, correr melhor, e em boa companhia. São bons e diversificados objectivos. Vai ser um bom ano.

O Trail está a “crescer” em Portugal. De que forma vês esse mesmo crescimento?

No que me diz respeito, e quem me conhece sabe que é verdade, tento cativar o máximo de atletas que posso. Nem que seja só para experimentar e sofrer um pouquinho. Mas o trail está a crescer tanto a nível de atletas como de eventos. Quase todas as semanas lá surge a novidade de uma nova prova. Desde que as marcas e as organizações não usem esse pretexto para ganhar dinheiro, vejo isso com bons olhos. A nível de calendário também se poderá tornar difícil a escolha e não dá para marcar presença em todas. O mais importante é que o espírito do trail se mantenha intacto.

 

Se te pedissem para descreveres o trail com cinco palavras, quais utilizarias?

Seria fácil descrever com 5 adjectivos portanto as minhas palavras são: Nunca Mais E Para Sempre. Quem faz trail compreenderá.

 

Rui Santos

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