The mountain Wolf
Trail de Santa Luzia
13-02-2014 15:33Alertas vermelho…
Só os doidos e insanos apaixonados se aventuram….
Ventos ciclónicos, dilúvios infernais e temperaturas de gelar o inferno, músculos enrijecidos e ossos encharcados…
Com estes cenários pouco se aventurariam a sair simplesmente de casa, mas o que dizer dos cerca de quatrocentos aventureiros que marcaram presença no Estádio Manuela Machado para mais um Trail de Santa Luzia?
Aconteceu mesmo no dia 9 de Fevereiro, cerca de 400 bravos se juntaram para se desafiarem num tormento climatérico, a montanha e os seus trilhos já por si duros seriam a parte mais “fácil”. Como li numa crónica o Adamastor mudou-se para Viana do Castelo e instalou-se na sua serra. Contudo estes guerreiros sem espada e armadura não desarmaram nem baixaram a moral no momento de seguir rumo ao desconhecido. Eu era um deles…
Esta não era uma prova que estava planeada mas depressa a resolvi correr, muito por causa de um Grande atleta José Carvalho. Para mim um Senhor que muito admiro, companheiro de muitos treinos, de suores partilhados em passadas várias, em cada momento de sofrer para se atingir um objetivo que estava planeado numa simples folha de papel. Muito me ensinou, a sua Humildade a cobrir um palmarés invejável é só a pequena ponta de um véu bem mais longo. Poder voltar a partilhar um trilho com ele era muito mais que um convite, era poder correr de novo pelo simples prazer de correr, de partilhar um treino, um trilho, um gosto comum.
Corri a seu lado desde o início. Já conheço a sua maneira de correr, “começar a matar e chegar a morrer”. Sabia que aqueles ritmos não seriam os mais indicados pois ainda havia muitos quilómetros pela frente, mas mesmo assim não queria saber, simplesmente estávamos ali de novo a desafiarmo-nos a desfrutar do trilho e da montanha e de sorrisos nos rostos voltamos a ser crianças. Com o passar a prova, quebrei e perdi o contato com o grupo da frente, sabia que estavam logo ali pois conseguia mantê-los sob a minha vista. Já no planalto sabia que tinha que apertar o ritmo e forçar o andamento se queria voltar a entrar na discussão da prova, até que vejo o Zé aninhado a apertar os atacadores e com cara de pouca disponibilidade física. O nevoeiro apertava, o frio era insuportável se não mantivéssemos o corpo em movimento. Mas não podia deixá-lo naquele estado onde já não conseguia correr em algumas partes. Quanto a mim sentia ainda alguma frescura física. Até ao final fomos juntos.
Se me perguntam agora porque não o deixei e tentei apanhar os da frente, eu irei responder que há coisas que não se explicam…sentem-se, e a amizade é o bem mais precioso. Naquelas condições climatéricas e no estado físico em que ele se encontrava a ficar, sozinho era o pior que lhe podia acontecer.
Quero aqui deixar uma palavra de parabéns à organização, que perante tamanho temporal não se deixou intimidar e soube estar à altura, nunca me senti em perigo nem sozinho e os voluntários eram fantásticos. Posso dizer que uma prova em que participei estava bem pior no ano passado e ninguém aponta o dedo, vamos deixar de ser cínicos e dizer as coisas tal como elas são. Nessa mesma prova desisti porque achei que não existiam condições para se correr em segurança pois as fitas mal eram avistadas umas das outras, os ventos eram muito mais fortes e existia queda de granizo. No final todos os atletas acharam que foi espectacular, talvez por terem em conta quem a estava a organizar. Vamos criticar as provas com as críticas que merecem e não criticar tendo por base a pessoa/grupo que as organiza.
Albino Magalhães
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