The mountain Wolf


Trail do Jesuíta

18-02-2014 11:31

Tirsense de gema…Sim sou.

Há uns tempos atrás o Grão-Mestre Moutinho falou comigo. No início pensei que fosse o inicio de mais uma conversa sobre o desporto que tanto gostamos, e que nos permite visitar paisagens e locais maravilhosos, contudo o seu assunto era outro.

Albino vou fazer uma prova de Trail na tua terra e gostava que fosses o Padrinho da mesma, estás interessado?” (disse ele). Ainda meio sem saber o que dizer, por entre pensamentos e digestão daquelas palavras, saiu-me logo um redondo sim…“Eu padrinho da prova” (pensei).

O tempo foi passando e fui vendo o evento a crescer e qual é a minha admiração quando vejo como atletas convidados da nossa vizinha Espanha, o Raul Gastan (atleta que já acompanho há muito tempo por ser uma referência) e a Vanessa Ortega, ambos com um currículo vastíssimo a nível internacional. “Não basta os nacionais estarem cada vez mais fortes e ainda vêm estes…vai ser para sofrer está visto” (pensei eu).

Na véspera da prova realizou-se um jantar de convívio da organização, onde tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Raul. Depois de umas trocas de palavras fiquei muito agradado pela sua simplicidade e boa disposição. Por entre pratos e sobremesas, com uns fados à mistura lá chegou a merecida hora de deitar e descansar, pois no dia seguinte era hora de largar as feras.

A manhã nasceu gélida mas com céu limpo, as temperaturas muito próximas dos zero graus arrepiavam a pele. Esfregava as mãos para as tentar aquecer, cumprimentos a amigos que só se encontram nestes dias, umas palavras de incentivo aos atletas tirsenses…contagem decrescente.

A prova começou rápida com o Raul a impor o ritmo e a realizar logo uma selecção. Ficamos cerca de 5 atletas. A subida era na sua primeira parte algo corrível, depois de um momento de “descanso” iniciava-se a parte mais difícil, com mais inclinação e técnica. Continuo com a minha respiração nas costas do espanhol, mas a partir de uma cerca parte devido à muita folhagem e não conseguir firmar bem os pés deixo-o ir no seu ritmo, prefiro entrar eu também num mais confortável. Após o primeiro abastecimento e depois de terminada a subida estou inserido num segundo grupo. A partir daqui era abrir a passada até iniciarmos nova subida. O ritmo vai forte imposto pelo Diogo (uma maquina tirsense), viragem à esquerda e recomeço do caminho em direção ao céu. Em ritmo sempre constante o desnível vai sendo ultrapassado, estamos num dos locais mais bonitos de Santo Tirso, muitos treinos fiz por estes caminhos e em muitos deles subi acima do grande rochedo para contemplar o vale que se estende até ao mar lá bem longe. Hoje não tinha tempo para apreciar a paisagem, mas mesmo assim não deixei de lançar um sorriso rápido e um olhar para aquele cenário mágico.

“Força Diogo vamos lá, ele está a ceder, mais um pouco e descansamos na descida..” (digo eu)

Era momento de viajar no tempo e “pisar” a história no antigo castro do Monte Padrão, num breve aceno ao amigo Carlos Pereira e a sua objetiva que tão fantásticos momentos capta, e estávamos a descer desenfreados em direção ao Carvalhal de Valinhas.

 Com cuidados e cautelas redobradas, e agarrados a cordas serpenteamos de forma ágil as quedas de água da fervença.

Ora se tudo que sobe desce, neste caso tudo que desce vai ter de subir, e assim foi. Terminada a descida iniciamos a subida que nos levaria a Pereiras por uma pista de Downhill. O ritmo era cerco, mas tínhamos na mesma a companhia de mais um atleta. Reparo que começa a fraquejar.

Diogo até Pereiras não há descanso, não podemos quebrar o ritmo, ele está a quebrar e se queremos descarta-lo tem que ser agora.” (disse eu)

Não paramos e ainda aumentamos um pouco o ritmo. O abastecimento de Pereiras rapidamente apareceu, dois copos de água e um gel, e as pernas já estavam de novo em marcha.

A partir daqui o ritmo nunca mais abrandou, em passos leves que flutuavam pela folhagem e linhas de água, depressa chegamos ao último abastecimento iniciávamos a descida final que nos levaria até à chegada. Rápidos e ágeis serpenteamos os troncos de árvore que limitavam o trilho, numa descida divertida que rapidamente terminou. Santo Tirso está já à vista, entramos num caminho largo e logo de seguida numa estrada de paralelos, o Diogo aumenta o ritmo as minhas pernas não conseguem acompanhar as suas, parece uma gazela em campo aberto, vai ganhando terreno e tem já cerca de 100m. Entramos no parque mesmo já dentro dos últimos 500m tento mais um forcing a pulsação dispara e os músculos vão ficando duros, estou mesmo a alcançá-lo, vou me enchendo de mais motivação.

Vá mais um pouco, tu consegues.” (diz o meu inconsciente)

 O Diogo também ele força o ritmo e eu já não consigo responder, entramos muito próximos um do outro na reta da meta com o Diogo a cortá-la em primeiro lugar.

Andamos sempre pensando que eramos segundo e terceiro, só mesmo na meta soubemos que o Raul se tinha perdido. A cidade e as suas gentes tinham dois atletas da terra a disputarem ao sprint a vitoria na sua prova. Correr na nossa terra tem um gosto diferente, receber tanto apoio ao longo de quase todo o percurso dá-nos uma força extra, e correr com o Diogo é fantástico. Já o conheço há muitos anos, já jogamos futebol juntos e agora tenho o grande gosto de partilhar os trilhos com ele, mas fico ainda mais orgulhoso com os seus feitos. Santo Tirso não sabia o que era o Trail e no mesmo dia ganhou dois Campeões.

 

Albino Magalhães

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